sexta-feira, 29 de abril de 2011

É preciso saber desligar!


Esqueça o trânsito caótico, a urucubaca política, o tal balancete no final do ano. Deixe de lado a cobrança interna, a dívida externa, a tão eterna dúvida. Viver é assim. Não há como negar. Para ficar ligado é preciso saber desligar. Fácil? Nem tanto. Descobrir qual é o seu tempo é tarefa nobre: exige um grande conhecimento sobre si mesmo. Portanto, esqueça o relógio. Seu tempo está dentro de você. Chega de viver com a ansiedade no colo e o celular na mão. Não deixe a agenda ocupar sem querer - o lugar do coração. Respeite sua hora. Desacelere. Turn off. Mais do que correr, é preciso saber parar. Não adianta viver no piloto-automático e deixar de sorrir. Nem tirar folga e levar uma enorme culpa dentro da mala. O mundo lá fora exige produtividade e imediatismo. Aqui dentro, corpo e alma pedem menos, muito menos. Como fazer, então, para conciliar tempos tão diferentes? A resposta não está em livros. Mas dentro de cada um. Quer tentar? Respire fundo. Desencane. Perca seu tempo com você! É uma responsabilidade enorme desconectar-se, eu sei. Mas vida ao vivo é pra quem tem coragem. Coragem de arriscar. Cuidado em saber a hora certa de parar. Difícil? Pode ser. É um exercício diário que exige confiança e um amor incondicional por tudo o que somos e acreditamos. Uma aceitação suave dos próprios defeitos, um rir de si mesmo, um desaprender contínuo, um aprender sem fim sobre o que queremos da vida. Não importa se tudo parecer errado e o mundo virar a cara para você. Esqueça. Se esqueça. Hora de se perdoar. Renasça. Eu sei pouca coisa da vida, mas uma frase eu sigo à risca: é preciso respeitar o próprio tempo. E eu respeito! Acredito no que diz o silêncio na hora em que a mente cala. E meu silêncio - que não é mudo e também escreve - dita com voz desafiante: confie em si mesma. Quebre a rigidez. Ouse. Brinque. Viva com mais leveza. E - por favor - desligue-se. Só assim você vai transformar vida em letra e letra em vida. E ter coragem e fôlego pra ser você, no momento em que o mundo te atropelar sem licença e disser: Chegou a hora!
                                                                                                                                                                                                                   Fernanda Mello


quarta-feira, 27 de abril de 2011

Dar um tempo ...



Não conheço algo mais irritante do que dar um tempo, para quem pede e para quem recebe. O casal lembra um amontoado de papéis colados. Papéis presos. Tentar desdobrar uma carta molhada é difícil. Ela rasga nos vincos. Tentar sair de um passado sem arranhar é tão difícil quanto. Vai rasgar de qualquer jeito, porque envolve expectativa e uma boa dose de suspense. Os pratos vão quebrar, haverá choro, dor de cotovelo, ciúme, inveja, ódio. É natural explodir. Não é possível arrumar a gravata ou pintar o rosto quando se briga. Não se fica bonito, o rosto incha com ou sem lágrimas. Dar um tempo é se reprimir, supor que se sai e se entra em uma vida com indiferença, sem levar ou deixar algo. Dar um tempo é uma invenção fácil para não sofrer. Mas dar um tempo faz sofrer pois não se diz a verdade.

Dar um tempo é igual a praguejar "desapareça da minha frente". É despejar, escorraçar, dispensar. Não há delicadeza. Aspira ao cinismo. É um jeito educado de faltar com a educação. Dar um tempo não deveria existir porque não se deu a eternidade antes. Quando se dá um tempo é que não há mais tempo para dar, já se gastou o tempo com a possibilidade de um novo romance. Só se dá o tempo para avisar que o tempo acabou. E amor não é consulta, não é terapia, para se controlar o tempo. Quem conta beijos e olha o relógio insistentemente não estava vivo para dar tempo. Deveria dar distância, tempo não. Tempo se consome, se acaba, não é mercadoria, não é corpo. Tempo se esgota, como um pássaro lambe as asas e bebe o ar que sobrou de seu vôo. Qualquer um odeia eufemismo, compaixão, piedade tola. Odeia ser enganado com sinônimos e atenuantes. Odeia ser abafado, sonegado, traído por um termo. Que seja a mais dura palavra, nunca dar um tempo. Dar um tempo é uma ilusão que não será promovida a esperança. Dar um tempo é tirar o tempo. Dar um tempo é fingido. Melhor a clareza do que os modos. Dar um tempo é covardia, para quem não tem coragem de se despedir. Dar um tempo é um tchau que não teve a convicção de um adeus. Dar um tempo não significa nada e é justamente o nada que dói.

Resumir a relação a um ato mecânico dói. Todos dão um tempo e ninguém pretende ser igual a todos nessa hora. Espera-se algo que escape do lugar-comum. Uma frase honesta, autêntica, sublime, ainda que triste. Não se pode dar um tempo, não existe mais coincidência de tempos entre os dois. Dar um tempo é roubar o tempo que foi. Convencionou-se como forma de sair da relação limpo e de banho lavado, sem sinais de violência. Ora, não há maior violência do que dar o tempo. É mandar matar e acreditar que não se sujou as mãos. É compatível em maldade com "quero continuar sendo teu amigo". O que se adia não será cumprido depois.

                                                              (do livro "O amor esquece de começar") 
                                                                                                                                                                                                        Fabricio Carpinejar

A vida nos ensina a amar, e nos ensina a chorar. 
Pode ser irônico, mas a verdade é que você não sabe o valor do amor até chorar por ele.

segunda-feira, 25 de abril de 2011

(sincera)mente.


Tem gente que julga as pessoas apenas pelo fato de serem bonitas, feias, ricas ou pobres, apenas pelo fato de irem a uma igreja diferente, a um bar ou boate. Preciso dizer que isso me causa dores no dedão esquerdo e coceira no pé direito? Desde que o mundo é redondo estamos acostumados a julgar pelas aparências, confesso, isso me mata.
Caminhando pra casa, cheguei a conclusão que o meio onde eu estou não influência em nada na minha essência, até eu permitir que a mudança aconteça. Ou seja, o fato de eu ir em um bar, não me torna uma pinguça ou pé-de-cana. Do mesmo jeito que o fato de eu ir em uma boate não me torna uma puta a procura de alguém. Assim sendo, o fato de eu ir na igreja não me torna uma cristã de verdade ou uma pessoa decente.
O meio que você vive, só interfere no seu eu quando você deixa isso acontecer. Você pode ir num bar e pedir um suco de laranja sem açúcar, e se sentir bem com isso. Você pode ir numa igreja, ouvir o que eles dizem e se esquecer de tudo assim que colocar o pé do lado de fora. Pode acreditar que esses acontecimentos acontecem todos os dias ou todos os finais de semana. Mas, a partir do momento que você entrar num bar e pedi uma dose de conhaque ou uma garrafa de cerveja, a mudança acontece e você corre o risco de não conseguir controlar o que virá depois. A comparação com a igreja morre aqui, porque com Deus o pagode rola de outro jeito. Você pode ouvir um sermão, conselho, qualquer coisa da Bíblia e praticar, mas a partir do momento que você resolve não querer, simplesmente acaba. Isso é o que conhecemos pelo nome de: livre arbítrio.
Então não venha colocar a culpa em ninguém ou no meio onde você vive, pois a escolha é só sua.

domingo, 24 de abril de 2011

E daí que o coelho não bota ovo?


Quando eu era criança não entendia muito bem a Páscoa. Só adorava procurar os ovinhos de chocolate que o coelhinho escondia. Mas, o que tem a ver coelho com ovos, seus símbolos, com a ressurreição de Jesus ou a fuga dos hebreus do Egito comandada por Moisés? Agora sei qual a relação de tudo isto. Os ovos são o símbolo do nascimento. Ali dentro, uma vida por vir ao mundo. É o eterno milagre da vida que renasce todos os dias. O coelho é o animal que se reproduz com uma velocidade estonteante, é uma ode à família, uma declaração de amor que a natureza faz todos dias. 
Renascer é nascer, somos nós mesmos que renascemos nos nossos filhos, é a vida que se pereniza na prole. A fuga dos hebreus é o fim da escravidão de uma povo. A escravidão equivale à morte, escravizar equivale a tirar a vontade e a alma de alguém, equivale a tirar sua vida. Se libertar da escravidão é viver de novo, é renascer, é estar sempre começando tudo de novo.
Por fim, Jesus é a ressurreição. Quer prova mais clara do que digo? Este eterno milagre que nos encanta é o milagre da vida que a Páscoa nos relembra. A Páscoa é a ressurreição das nossas almas. Este é o dia de renascer, começar tudo de novo. De nos libertamos do mal que corrompeu nossas almas e nos recobrirmos com o véu da pureza da alma que tivemos um dia. Abandonar tudo o que é velho e antigo e olhar pra frente com coragem. Nos dedicarmos à vida como quem sorve o sumo de um fruto saboroso. Hoje é dia de renascer.

Feliz Páscoa para todos.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

Uma paçoca e um mate amargo. Pode ser?



- Eu não consigo entender, o que é então que você quer da vida?

(Ah, você quer saber o que eu quero da vida? Vi-da. Substantivo simples, ou verbo viver? Dá na mesma, que seja..Tão difícil dizer agora. E escolher as palavras corretas, certeiras. Assim, eu quis fazer as minhas unhas hoje pela manhã, mas me faltou tempo. Meu cabelo precisa de um corte novo, meu saldo bancário de um limite maior, e meu armário, de mais roupas. Sapatos, você sabe: nunca são demais. Um colar dourado com o meu nome, aquele vestido de flanela da vitrina de ontem. Treinar italiano, e falar fluentemente, já. Almejei ser mais baixa, e menos brasileira. Detesto chuva, rezei pelo sol. Veio ontem, mas durou pouco. Quis sentir a grama úmida da chuva de ontem cravar sob os meus dedos, enquanto puxaria algumas folhas do solo; e o que fiz foi entrar dentro de um veículo coletivo, poluidor. Totalmente contrário, eu sei. Desejei de todo o meu coração dobrar a esquina, e não encontrar nenhum conhecido. Subir as escadas rolantes, e não ser vista nos olhos por ninguém. Que essa gula adocicada passasse tão logo como chegou. Que você me abraçasse, e fizesse o mundo parar. Pode ser? Você me aperta contra o seu peito, eu ouço o seu coração, e tudo bem: está vivo e eu estou dentro. Mas não falo. Que boba, tão infantil. Então, daria pra você segurar a minha mão com força, olhar por entre as minhas unhas não-feitas, e cutículas levantadas, com compaixão? Mas isso você já faz, e acho lindo. Tua mão linda e longa, viril, sem medo algum dos meus dedos finos e compridos; garras femininas. Se você abrisse um sorriso branco, sincero e estridente, olhando fundo apenas nos meus olhos, e não na paisagem que se porta por trás, ganharia meu dia. Mas quero mais. Ir além, dançar na vida. Tombar algumas vezes, ressurgir furacão noutras - avassaladora. Uma casa no campo, e a vida da cidade. Dirigir veloz pelas ruas, sem esse pára e arranca desgraçado de onde habitamos. Meu batom que você chama de Barbie, rosa-choque. Dormir tardes inteiras, varar noites vagais. Apenas morando no teu corpo, no teus braços fortes. Apertando o teu músculo definido. E acordando com aquele ar de manhã desgraçada de tão linda, com efeito de noite vivida, que chega a ser um pecado existir. Mesmo com remelas, e dentes escovados às pressas. Poucas palavras, membros amassados, e marcas de expressão. Quero tudo que não foi, dá pra ser? É, acho que não. Então anota aí, que é pra não esquecer: seguir minha carreira de jornalista alguma coisa, dirigindo meu carrinho pequeno meia-boca, e continuar sendo loira até o fim da eternidade. Isso cabe. Se você quiser, mais pra frente participa - só não entra agora no script não, que tudo se perde, tudo acaba, e nada está pronto: nem eu, tão pouco você.)

- Hm.. Ah, uma paçoca e um mate amargo. Pode ser?
- Tá, vamos indo então e no caminho a gente compra.

E a gente vive meio sonhando, e segue andando com a cabeça nas nuvens. Não sabendo até que ponto tudo isso é realidade, apenas vivendo e deixando acontecer, acontecendo e não pensando muito nos fatos, e sorrindo, independente de tudo. Felizes.

                                                                                                                                              Camila Paier

segunda-feira, 18 de abril de 2011



Eu tenho muito dentro de mim e não estou afim de receber nada em troca. Essa coisa bonita de dar sem receber funciona muito bem em rezas, histórias de santos e demais evoluídos do planeta. Mas eu não moro em igreja, não sou santa, não evoluí até esse ponto e só vou te dar se você me der também.

quinta-feira, 14 de abril de 2011



Pelo menos as deformações não calaram fundo, não se afirmaram em feições. É bom, sim, mas ao mesmo tempo é terrível. Porque me vem o medo de estar agindo errado, de estar gerando feições horríveis, que mais tarde não sairão com facilidade. Não, não é fácil ser a gente mesmo da cabeça aos pés, da unha do dedo mindinho até o último fio de cabelo.

                                                                                                                               Caio Fernando Abreu


Acho que foi na primeira troca de olhar que tudo aconteceu. Não estou dizendo que a minha história se encaixa naquela coisa de amor-à-primeira-vista, ou talvez eu esteja sim. Primeiro, deixa eu me justificar, ou ao menos tentar. Sabe quando você encontra um par de olhos e sente algo, ou às vezes nem sente. Ainda bem que o coração é mais esperto. Eu poderia dizer que o coração tem olhos de águia, enxerga longe, tão longe que, às vezes, só no futuro os nossos olhos vão perceber e entender. Dizem que no coração a gente não manda - e eu digo: ainda bem. Coração não é burro, coração é paciente e perseverante.
Tudo bem, talvez na primeira troca de olhar tudo tenha parecido casual e sem sabor, mas tenha certeza de que você pode está enganado/a. Como eu já disse, tem coisas que só vamos perceber no futuro.
Hoje, a possibilidade da história de amor-à-primeira-vista é vista como verdade, por mim. O que não quer dizer que foi à primeira vista que tudo rolou. Talvez você também tenha tido um encontro assim: casual e num futuro qualquer verá que casual era só a máscara que ele usava.

domingo, 10 de abril de 2011

De perto, ninguém é normal!


Me lêem, mas não me vêem. Não assim, maquiada e com a pele obstruída em base, pó e blush. A tão famosa pinta acima da boca, as covinhas nas costas, ou meus dentes grandes, e os lábios finos. É engraçado como sabem vocês das minhas tantas dores, ansiedades e complexidades, e nunca, nem sequer, tenham me visto cara à cara. Pensei nisso enquanto entrava no supermercado e comprava barras de cereal, e uma menina me fitou. E concluí com uma frase que já ouvi por aí, não sei aonde e nem a autoria: de perto, ninguém é normal.
Como o Bis em partes. Primeiro a parte de cima, depois o recheio, a parte do meio, de novo o recheio e só apenas a parte meio oca do final. Caminho rápido pelas ruas: sou quase um foguete. Coço o nariz mesmo quando não minto; é a rinite, que me ataca sempre. Tenho falado cada vez mais sozinha. Converso comigo mesma no calçadão, quando seco os cabelos, e antes de dormir. Quando sou pega em flagrante, ensaio um tom meio musical, que passe a mensagem mais sã de que "não sou louca, estou apenas cantando.". Quando me deito, os cabelos não podem encostar a pele: pra cima, e longe de se enroscar nas orelhas, de atrapalhar o meu sono de princesa. Fujo de semi-conhecidos (chega a ser incrível a quantidade de chaves, celulares e papéis que eu TENHO que pegar na bolsa, sabem como é...). Interrompo os outros, para não me fugir a idéia no ponto alto de conversas - e me arrependo, minutos mais tarde. Ensaio diálogos que quase nunca se concluem, ao telefone. E muito menos ao vivo. Quase chuto pessoas que caminham devagar, quando na minha frente. Não dialogo com coerência assim que acordo. E nunca, em hipótese alguma, tente discutir comigo pela manhã - ainda mais, se não quiser ouvir algo que te machucará. Será i-ne-vi-tá-vel.
Faço eu mesma meu leite desnatado, colocando metade do leite integral, e outra metade de água mineral. Não como tomate. Detesto telefone. Nunca tive o hábito de roer as unhas, mas puxo as peles que ficam em volta da unha. Hoje não quero, amanhã necessito. Sou ríspida, e hora depois, amável. Discuto por futebol, e abraço por gosto musical parecido. Na rua, não olho pro lados. E nem para qualquer psiu, fiu-fiu. Pra frente, e reto. Alheia, e indiferente - quem me conhecer, me chamará pelo nome. Algumas vezes, escuto Tetê Espíndola e Belchior, para não cair na mesmice. Passo rímel com a boca aberta. Tropeço mesmo parada, e não consigo dormir em lugares públicos. Ando como uma desabrigada em casa, com roupas velhas e uniformes dos meus antigos colégios. Sempre confirmo o preço, mesmo sabendo de cor. Não durmo sem saber meu signo do dia seguinte. E não pego no sono se a porta do armário estiver aberta. Necessito de pelo menos quatro litros de chimarrão e uma paçoca, por dia. Minto meu nome em festas, e à pessoas indesejáveis. Leio o jornal de trás pra frente, e abro a geladeira pra pensar. Além do mais, dobro a ponta das páginas, ao invés de usar o marca-página. Sou estranha? Talvez sim, acredito que não. Nem me importo. Sempre busquei o diferente, e talvez até tais diferenças sejam batidas, manjadas ou então, populares. Vai saber!
Dizem que mania, cada louco tem a sua. Essa são algumas das minhas, ou apenas, as que consigo perceber. E claro, como de perto, ninguém é normal, aqui está minha assinatura, logo embaixo de tudo isso. Porque sem apenas um desses meus pequenos defeitos, poderia ser você, poderia ser a sua irmã, ou a sua amiga. Mas de perto, a uns cinco centímetros, essa é uma face de mim. Apenas uma, das tantas e tão distintas. Gosta quem quiser, e detesta quem puder. Não dizem que são os defeitos que marcam, aprisionam, e apaixonam? Acredito também, ué.
                                                                                                                                              Camila Paier

sexta-feira, 8 de abril de 2011



Frágil – você tem tanta vontade de chorar, tanta vontade de ir embora. Para que o protejam, para que sintam falta. Tanta vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços, sem deixar endereço. Um dia mandará um cartão-postal de algum lugar improvável. Bali, Madagascar, Sumatra. Escreverá: penso em você. Deve ser bonito, mesmo melancólico, alguém que se foi pensar em você num lugar improvável como esse. Você se comove com o que não acontece, você sente frio e medo. Parado atrás da vidraça, olhando a chuva que, aos poucos começa a passar.

                                                                                                                            Caio Fernando Abreu

terça-feira, 5 de abril de 2011

All we need is love


Sabe aquele cara, que diz que não tem tempo pro amor, que quer se focar nos estudos, trabalho, ou atividade física, e que tem preferido ficar sozinho? Ele quer se apaixonar. Desesperadamente. Sem culpa, dó, dor ou remorso. Quer alguém que o faça perder o sono, cair nas horas, e sonhar acordado. Que mude a sua existência, marque e fique. Nem que seja temporariamente, que entre pra sua história pessoal. Pro acervo da memória, resguardada, íntima e interna. Não só ele, assim como o menino que vai pra festa, e pega várias. Ou aquele seu amigo que tem uma agenda telefônica imensa, e uma solidão que quase pula pra fora, no peito. Se vangloria de ter levado um número grande de garotas pra cama (quando deveria é agradecer, de não ter pego nenhuma DST - ainda.) Todos querem é cair de amores. Não me contradigam: é verdade. Até o mais canalha dentre todos os cafajestes que já apareceram na sua vida. Pode apostar. Quando vai dormir, pensa em ter alguém pra fazer um cafuné quando ele bate o carro, está se gripando ou o dia fica pesado. Alguém com quem possa viajar, curtir um som em paz, e dormir com cumplicidade. Acordar, e saber que está ali - por ele, para ele. Querer ao seu lado com urgência, paixão. Ligar a qualquer hora para dizer: ei, como foi o seu dia? Porque ele realmente se importa, e quer saber. E não para cumprir tabela, e largar fora depois, feito cotonete usado. Contar suas histórias, seus dilemas, sabendo escutar com ouvido atento tudo que lhe é dito; tamanha fome de informação, sem detalhes perdidos pelo caminho. Um pouco de ciúme, que é pra apimentar periodicamente. Mistério, para que se vá descobrindo aos poucos, e encantando-se ainda mais. Alguém que apareça, e faça mudar de idéia e princípios, teoremas. Cometer loucuras, furtivas e inesquecíveis. Mesmo que amanhã tenha que acordar cedo e as tarefas sejam muitas. Que ainda seja cedo para pensar no futuro. Sentir é que é o ápice. E não é atrás disso que todos estamos, sempre? Aquele brilho no olho, que conta muito mais do que qualquer convite rebuscado, cheio de estilo. Um sorriso tímido, que feito figurinha, cola no inconsciente, e visitamos, sempre que queremos um minuto de paz. Dois corações acelerados, na mesma frequência exata, sem querer saber do resto do mundo, de nada. Ter em quem pensar, quando os comerciais românticos aparecem, ou a pegação fica mais forte nas cenas que a televisão reproduz. Uma mão que te toque sem maldade, malícia ou posse: apenas amor. Vejam vocês, amor. Primeiro uma paixão que incendeia, e abrandada, vai ficando, e tornando a ficar, marcando a ferro e fogo, iniciais e letras, lá dentro, fundo. Love is all you need. É mesmo! Como num sonho bonito que sonhamos, mas muito melhor: sem beliscão pra acordar, e sim duas bocas que se sentem, pele com pele que se tocam. E é disso que estamos atrás. Tanto eu, como você. E o caminhoneiro, que assobia a cada bundinha redonda que vê passar pelas ruas. Aquele executivo, terno bem passado e gratava no lugar, e seu casamento de fachada. O seu amigo que coleciona calcinhas que cada par de pernas abertas que explorou, e também aquele moço que diz não querer o amor, nem nada que lhe tire o foco, a atenção. Mentira dele. Todos queremos escutar sininhos e sinetas, ver pássaros azuis, e anjos. Ir até o outro lado do mundo, se preciso. Ninguém está fechado para balanço, porque quando o tal amor entra em jogo, tudo se abre, sem revisão e dúvida alguma. O que não admitimos é perder tempo com aquilo que não nos faz ter o mínimo de decência e consideração - e que seja muito mais que apenas tesão.                                                                                

''Pelo fato de ter sempre o mesmo nome, 
os mesmos olhos e o mesmo nariz, 
não quer dizer que eu seja sempre a mesma mulher.''

                                                                                Trecho do livro 'A Ilha' de Aldous Huxley

domingo, 3 de abril de 2011

Depois de algum tempo...

"Depois de algum tempo você aprende a diferença, a sutil diferença entre dar a mão e acorrentar a alma. E você aprende que amar não significa apoiar-se, e que companhia nem sempre significa segurança. E começa aprender que beijos não são contratos, e que presentes não são promessas. E começa a aceitar suas derrotas com a cabeça erguida e os olhos adiante, com graça de um adulto e não a tristeza de uma criança. E aprende a construir todas as suas estradas no hoje, porque o terreno do amanhã é incerto demais para os planos, e o futuro tem o costume de cair meio em vão."

"Depois de algum tempo, você aprende que o sol queima, se ficar a ele exposto por muito tempo. E aprende que, não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente não se importam... E aceita que, não importam quão boa seja uma pessoa, ela vai feri-lo (a) de vez em quando, e você precisa perdoa-la por isso. Aprende que falar pode aliviar dores emocionais. Descobre que leva-se anos para construir confiança e apenas segundos para destruí-la, e que você pode fazer coisas em um instante, das quais se arrependerá para o resto da vida. Aprende que verdadeiras amizades continuam a crescer, mesmo a longas distâncias. E o que importa não é o que você tem na vida, mas quem você tem na vida. E que bons amigos são a família que nos permitiram escolher. Aprende que não temos que mudar de amigos, se compreendermos que os amigos mudam. Percebe que seu melhor amigo e você podem fazer qualquer coisa, ou nada, e terem bons momentos juntos. Descobre que as pessoas com que você mais se importa na vida são tomadas de você muito depressa, por isso, devemos deixar as pessoas que amamos com palavras amorosas, pode ser a última vez que as vejamos."

"Aprende que as circunstâncias e os ambientes têm muita influência sobre nós, mas que nós somos responsáveis por nós mesmos. Começa a aprender que não se deve comparar com os outros, mas com o melhor que você pode ser. Descobre que leva muito tempo para se chegar aonde está indo, mas que, se você não sabe para onde está indo, qualquer lugar serve. Aprende que, ou você controla seus atos ou eles o controlarão, e não importa quão delicada e frágil seja uma situação, sempre existem dois lados."

"Aprende que heróis são pessoas que fizeram o que era necessário fazer,enfrentando as conseqüências. Aprende que paciência requer muita prática.Descobre que algumas vezes, a pessoa que você espera que o chute, quando você cai, é uma das poucas pessoas que o ajudam a levantar-se. Aprende que a maturidade tem mais a ver com tipos de experiências que se teve e o que se aprendeu com elas, do que com quantos aniversários você celebrou. Aprende que há mais de seus pais em você do que você supunha. Aprende que nunca se deve dizer a uma criança que sonhos são bobagens, poucas coisas são tão humilhantes, e seria uma tragédia se ela acreditasse nisso.

Aprende que quando está com raiva, tem direito de estar com raiva, mas isso não lhe dá o direito de ser cruel. Descobre que só porque alguém não o ama mais do jeito que você quer não significa que esse alguém não o ame com todas as forças, pois existem pessoas que nos amam, mas simplesmente não sabem como demonstrar ou viver isso. Aprende que nem sempre é suficiente ser perdoado por alguém, e que algumas vezes, você tem que aprender a perdoar a si mesmo."

"E que, com a mesma severidade com que julga, será em algum momento condenado. Aprende que não importa em quantos pedaços seu coração foi partido, o mundo não pára, para que você
junte seus cacos. Aprende que o tempo não é algo que se possa voltar para trás. Portanto, plante seu jardim e decore sua alma, ao invés de esperar que alguém lhe traga flores. E você aprende realmente que pode suportar... que realmente é forte, e que pode ir mais longe, depois de pensar que não pode mais. E que realmente a vida tem valor diante da vida !!!"   

                                                                                                                               Veronica Shoffstall

“Não me importar”. Seria tudo tão mais simples. Por que eu não posso simplesmente não me importar? Porque eu não posso simplesmente ignorar?
Pessoas, coisas, sentimentos, pensamentos... Sempre nos machucam, ou não. Ás vezes somos nós mesmos que nos machucamos e colocamos a culpa nas pessoas, nas coisas, nos sentimentos, nos pensamentos... em fim!
Eu só queria não me importar em ter uma vida melhor, em ser alguém melhor, em mudar as pessoas, mas é impossível, eu sei! Não sei como vou fazer com essa agonia que estou sentindo, com essa solidão mesmo sendo rodeada de pessoas que me amam, queria ignorar tudo e todos e viver só pra mim, e viver só comigo, talvez assim não me sentia tão só quanto estou, pelo menos teria a mim mesma.
O meu eu agora está ferido, está doente, doente de cansaço, é, estou cansada disso tudo aqui, desse mundinho infernal! Queria mudar tudo, pra ser do meu jeito, ou queria simplesmente não me importar. Seria mais fácil! Seria bem mais fácil!


Já me disseram que eu sempre aparento estar bem, feliz. De fato é verdade. Procuro manter o sorriso colado no rosto e sempre tenho uma piadinha idiota pra fazer, mesmo quando o momento é o mais crítico. Talvez você não tenha prestado atenção numa palavra, a qual é a mais importante de todas: aparento.
Aparências enganam e todos estamos carecas e cabeludos de saber isso, né? Nos últimos anos eu tenho aprendido muito, eu tenho vivido e sentido coisas inéditas e exclusivas minhas.
Já perdi as contas de quantas vezes comecei a chorar no meio da rua, assim, sem motivo aparente. Nem me lembro qual foi a última semana em que dormi totalmente em paz, vivo preocupada, vivo sem saber o que fazer e se tenho algo pra fazer.
O fato de não reclamar sempre, o fato de querer enxergar o lado bom das pessoas, o fato de me apaixonar todos os dias por estranhos e conhecidos, o fato de ter sempre um sorriso estampado no rosto não fazem de mim uma pessoa sem problemas.
A vida é feita de escolhas, algumas vezes, você tem duas opções e em outras você tem três ou cinco, cabe a você escolher. Estou sempre fazendo escolhas erradas, estou sempre escolhendo o lado errado e estou sempre voltando. Voltar não é sinal de vergonha, pra mim, é sinal de coragem. Começar de novo, tentar de novo é necessário. E eu escolhi viver assim, não de aparências, pois quem me conhece sabe realmente como estou. Minhas verdades são reveladas apenas a quem me interessa e a quem se interessa.

sexta-feira, 1 de abril de 2011



Havia a levíssima embriaguez de andarem juntos, a alegria como quando se sente a garganta um pouco seca e se vê que por admiração se estava de boca entreaberta: eles respiravam de antemão o ar que estava à frente, e ter esta sede era a própria água deles.
Andavam por ruas e ruas falando e rindo, falavam e riam para dar matéria peso à levíssima embriaguez que era a alegria da sede deles.
Por causa de carros e pessoas, às vezes eles se tocavam, e ao toque - a sede é a graça, mas as águas são uma beleza de escuras - e ao toque brilhava o brilho da água deles, a boca ficando um pouco mais seca de admiração.
Como eles admiravam estarem juntos!
Até que tudo se transformou em não. Tudo se transformou em não quando eles quiseram essa mesma alegria deles. Então a grande dança dos erros. O cerimonial das palavras desacertadas. Ele procurava e não via, ela não via que ele não vira, ela que, estava ali, no entanto. No entanto ele que estava ali. Tudo errou, e havia a grande poeira das ruas, e quanto mais erravam, mais com aspereza queriam, sem um sorriso. Tudo só porque tinham prestado atenção, só porque não estavam bastante distraídos. Só porque, de súbito exigentes e duros, quiseram ter o que já tinham. Tudo porque quiseram dar um nome; porque quiseram ser, eles que eram. Foram então aprender que, não se estando distraído, o telefone não toca, e é preciso sair de casa para que a carta chegue, e quando o telefone finalmente toca, o deserto da espera já cortou os fios. Tudo, tudo por não estarem mais distraídos."

                                                                                                                                  Clarice Lispector