quarta-feira, 20 de abril de 2011

Uma paçoca e um mate amargo. Pode ser?



- Eu não consigo entender, o que é então que você quer da vida?

(Ah, você quer saber o que eu quero da vida? Vi-da. Substantivo simples, ou verbo viver? Dá na mesma, que seja..Tão difícil dizer agora. E escolher as palavras corretas, certeiras. Assim, eu quis fazer as minhas unhas hoje pela manhã, mas me faltou tempo. Meu cabelo precisa de um corte novo, meu saldo bancário de um limite maior, e meu armário, de mais roupas. Sapatos, você sabe: nunca são demais. Um colar dourado com o meu nome, aquele vestido de flanela da vitrina de ontem. Treinar italiano, e falar fluentemente, já. Almejei ser mais baixa, e menos brasileira. Detesto chuva, rezei pelo sol. Veio ontem, mas durou pouco. Quis sentir a grama úmida da chuva de ontem cravar sob os meus dedos, enquanto puxaria algumas folhas do solo; e o que fiz foi entrar dentro de um veículo coletivo, poluidor. Totalmente contrário, eu sei. Desejei de todo o meu coração dobrar a esquina, e não encontrar nenhum conhecido. Subir as escadas rolantes, e não ser vista nos olhos por ninguém. Que essa gula adocicada passasse tão logo como chegou. Que você me abraçasse, e fizesse o mundo parar. Pode ser? Você me aperta contra o seu peito, eu ouço o seu coração, e tudo bem: está vivo e eu estou dentro. Mas não falo. Que boba, tão infantil. Então, daria pra você segurar a minha mão com força, olhar por entre as minhas unhas não-feitas, e cutículas levantadas, com compaixão? Mas isso você já faz, e acho lindo. Tua mão linda e longa, viril, sem medo algum dos meus dedos finos e compridos; garras femininas. Se você abrisse um sorriso branco, sincero e estridente, olhando fundo apenas nos meus olhos, e não na paisagem que se porta por trás, ganharia meu dia. Mas quero mais. Ir além, dançar na vida. Tombar algumas vezes, ressurgir furacão noutras - avassaladora. Uma casa no campo, e a vida da cidade. Dirigir veloz pelas ruas, sem esse pára e arranca desgraçado de onde habitamos. Meu batom que você chama de Barbie, rosa-choque. Dormir tardes inteiras, varar noites vagais. Apenas morando no teu corpo, no teus braços fortes. Apertando o teu músculo definido. E acordando com aquele ar de manhã desgraçada de tão linda, com efeito de noite vivida, que chega a ser um pecado existir. Mesmo com remelas, e dentes escovados às pressas. Poucas palavras, membros amassados, e marcas de expressão. Quero tudo que não foi, dá pra ser? É, acho que não. Então anota aí, que é pra não esquecer: seguir minha carreira de jornalista alguma coisa, dirigindo meu carrinho pequeno meia-boca, e continuar sendo loira até o fim da eternidade. Isso cabe. Se você quiser, mais pra frente participa - só não entra agora no script não, que tudo se perde, tudo acaba, e nada está pronto: nem eu, tão pouco você.)

- Hm.. Ah, uma paçoca e um mate amargo. Pode ser?
- Tá, vamos indo então e no caminho a gente compra.

E a gente vive meio sonhando, e segue andando com a cabeça nas nuvens. Não sabendo até que ponto tudo isso é realidade, apenas vivendo e deixando acontecer, acontecendo e não pensando muito nos fatos, e sorrindo, independente de tudo. Felizes.

                                                                                                                                              Camila Paier

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